sábado, 18 de fevereiro de 2017

“ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE”


Prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de nossas vidas, até que a morte nos separe.

Todos nós já ouvimos centenas de vezes essa frase, pronunciada pelos noivos, durante uma cerimônia de casamento. Mas como podemos pensar esta questão do “até que a morte os separe”, se a vida é tão imprevisível? Se cada casal, ainda com suas afinidades, são pessoas diferentes, cada qual, com suas particularidades, desejos, comportamentos e atitudes tão singulares?  Será possível manter um casamento feliz, sentindo-se realizado “até que a morte os separe?” E se isso não for possível, ainda assim, o “até que a morte os separe” tem de prevalecer? Qual o preço a se pagar?
A busca da felicidade e a família feliz, fundada na afetividade, são os fundamentos que passam a ser considerados em todos os relacionamentos. Que todos buscam suas realizações afetivas e amorosas, disso não há dúvida. Segundo Ivan Capelatto, o casamento é a busca angustiante de algo que, imaginariamente, acreditamos que possa preencher nossas faltas, nossos vazios. Porém, com o passar do tempo, percebe-se que isso é uma doce ilusão! Nem tudo é tão lindo e perfeito, as relações vão aos poucos se desgastando...
As características da contemporaneidade - dentre elas ressalta-se a instantaneidade, a ambivalência, a fluidez e precariedade nas relações, a fragmentação, o individualismo e o consumismo -, muito contribuíram para o enfraquecimento dos laços familiares.

Ele faz o noivo correto
E ela faz que quase desmaia
Vão viver sob o mesmo teto
Até que a casa caia
Até que a casa caia

Ele é o empregado discreto
Ela engoma o seu colarinho
Vão viver sob o mesmo teto
Até explodir o ninho
Até explodir o ninho

Certo é que para se viver em sociedade, os homens têm que se submeter às leis, que geram restrições. Porém algo sobra, ou escapa, o que causa um mal-estar. As leis foram impostas em nossa sociedade com a finalidade de estabelecer normas para uma boa convivência com as pessoas que nos rodeiam. Entretanto, na grande maioria das vezes, acabamos por nos tornar dependentes e submissos à Lei. Se existe a Lei é porque existe o Desejo. Se existe o Desejo, o que fazer com ele? Submeter-se à Lei ou ao Desejo? Muitas vezes, uma escolha angustiante...
Encontros e desencontros fazem parte da vida do Sujeito. Em algum momento, ele encontra aquele Outro idealizado, que o completa, que faz falta, e passa a dar sentido à sua vida. Mas, muitas vezes, esta mesma realidade pode levar o Sujeito a um sofrimento de perda diante de uma situação expressa em uma possível separação.

Ele fala de cianureto
E ela sonha com formicida
Vão viver sob o mesmo teto
Até que alguém decida
Até que alguém decida


OBS.: Os trechos escolhidos acima são da música “O Casamento dos Pequenos Burgueses”, de Chico Buarque de Holanda (1977-78).

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