sexta-feira, 30 de junho de 2017

QUANDO O VIVER SE TORNA INSUPORTÁVEL


Passamos, por um tempo, tão confortáveis, sendo alimentados, temperatura perfeita, oxigênio no nível ideal, sem esforço, sem absolutamente preocupação alguma. De repente, alguém diz: chegou a sua hora, a mordomia acabou! E acabou mesmo.

Simplesmente somos arrancados daquele estado de prazer absoluto, e eis que alguém nos diz: bem-vindo à realidade! Ó céus, que choque de sensações!

Nascemos, e aí? Estamos agora diante da realidade, com todos os seus prazeres e desprazeres possíveis. Faremos o que? Seremos o que? Desejaremos o que? Tantas expectativas são postas sobre nós... até mesmo antes de nascermos. E como será, caso eu não corresponda aos desejos dos outros? Como lidar com as frustrações que nos são apresentadas, dia após dia, hora após hora?

Os livros e os poetas cantam a melodia em forma de palavras, o quanto a Vida é importante, agradecer pela dádiva de estarmos vivos, sorrir ainda que as circunstâncias sejam devastadoras. Afinal, devemos encontrar algo de bom?

Muitas pessoas conseguem olhar para essa tal realidade e se preencherem, sentir que algo pode suscitar prazeres, desejos, despertar ambições e estabelecer objetivos. Conseguem, ainda que se deparem com os seus sofrimentos e frustrações, se erguerem e movimentarem suas pulsões para algo construtivo. Porém, nem todos têm o mesmo êxito. Nem todas as pessoas conseguem repensar e dar um outro sentido para as suas perdas, para suas fantasias nunca realizadas, sonhos guardados e, talvez, nunca revelados... E essas dores vão crescendo, tendo cada vez mais contornos expressivos, ficando cada vez mais elaboradas e densas. O corpo vai reagindo em paralelo, somatizações das mais simples às mais complexas.

O colorido do dia torna-se preto e branco, o sorriso dá lugar ao choro, e o brilho dos olhos à tristeza. Respirar se torna insuportável.

Como sair de uma condição de tanto prazer e saciedade, e acabar sendo conduzido para um empobrecimento afetivo e psíquico, ao ponto de o “viver” ser sentido como uma dor real?

Será aí, o momento em que o “viver” se torna insuportável?

7 comentários:

  1. Gostei muito do texto, parabéns!!!

    ResponderExcluir
  2. O texto é muito triste, mas verdadeiro.

    ResponderExcluir
  3. Daqui a pouco o Sol voltará a brilhar!

    ResponderExcluir
  4. Texto belíssimo!!! Eu prefiro viver uma vida colorida, com que eu possa determinar a forma da mesma; do que viver uma vida insuportável.

    ResponderExcluir
  5. Acredito que toda alvorada traz em si a centelha que pode acender a chama de um novo dia. Por mais cinza e nublado, atrás das mais pesadas nuvens existe um céu azul. Quando conseguimos vencer essa barreira, o caminho para a v8da de saciedade e prazeres que havia se escondido volta a surgir à nossa frente. Cabe a nós o exercicio diário de enxergar através das nuvens. Parabéns pelo seu texto e obrigado por compartilhar. Um abraço, João

    ResponderExcluir
  6. Penso que o ¨viver¨ torna-se insuportável apenas quando não procuramos constatar pelo menos um momento feliz da vida, por dia. Se todos fizessem este exercício de reflexão, parar e pensar em algum momento feliz ao longo do seu dia, ao invés de serem conduzidos para um empobrecimento ¨Afetivo e Psíquico¨, seriam conduzidos para um enriquecimento ¨Afetivo e Psíquico¨, e neste momento veriam que o ¨viver¨ é Suportável.

    ResponderExcluir
  7. A mente que modela nossas percepções ou as percepções do mundo modela nossa mente, num conjunto de informações nossa realidade muda a todo instante e somos modelados ou moldados por tudo aquilo que acreditamos. Parabéns Andréa, sua visão da formação, dos conceitos, da amplitude que contorna o ser pode fundamentar uma teoria dos problemas que nos cercam, trazendo luz ao entendimento.

    ResponderExcluir